Nesta semana, no dia 3 de maio, uma terça-feira, os brasileiros foram bombardeados com mais duas notícias muito trágicas. De manhã, a chacina em uma creche em Saudades, pequeno município de Santa Catarina. No final da noite, o ator Paulo Gustavo, 42 anos, morreu por causa de complicações da Covid-19, após ficar 52 dias em um hospital carioca.
Além de três bebês, uma professora e uma agente educativa foram mortas com golpes de uma adaga, uma espécie de lâmina larga e curta, empunhada por um jovem de 18 anos. O número de vítimas só não foi maior porque as funcionárias, com 30 e 20 anos, saíram em defesa das crianças.
O assassino não tinha passagens pela polícia, trabalhava, nasceu em uma família humilde, sofreu bullying na escola, se afastou dos poucos amigos, não tinha celular e se refugiava na internet. Considerado problemático, tentou se matar após o atentado e está hospitalizado. Apenas um menino, de 1 ano e oito meses, sobreviveu. Ele passou por cirurgia e permanece em internado. O velório e enterro das cinco vítimas causou comoção dentro e fora dos limites da cidade.
Já o ator, que estava intubado, chegou a usar um pulmão artificial no tratamento, mas perdeu a luta para o vírus. Amado por milhões de brasileiros pela sua irreverência, carisma e alegria, sua morte precoce acentuou a sensação de luto no país que, há 13 meses, vê a pandemia ceifar cada vez mais vidas todos os dias.
Como a internet virou terra fértil para que o ódio seja destilado, e as fake news sejam espalhadas e repetidas até a exaustão para que se tornem 'verdades', houve quem comparasse a repercussão dos dois acontecimentos, como se fosse um campeonato ou um reality show. Em uma vergonhosa demonstração de falta de compaixão, difundiram também em grupos de whatsapp que o falecimento do talentoso artista estava sendo mais valorizado, comentado e sentido do que os assassinatos das crianças e das duas jovens na escola infantil.
Desde quando se mede o amor, a compaixão e o sofrimento? Como comparar um ato criminoso, provavelmente fruto de uma mente perturbada, com o óbito de uma celebridade querida por seu público, respeitada por colegas famosos e com um grande número de amigos? O que se ganha com esse tipo de comentário doentio?
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