Uma profissão na berlinda

O jornalismo e, por tabela, os jornalistas têm sido atacados com ferocidade nos últimos meses no Brasil. Aos profissionais, que cumprem ordens e seguem a linha editorial ditada pelos patrões, os empresários da comunicação, estão reservados xingamentos, ameaças, agressões físicas, perseguições e até a morte por encomenda. Nunca foi fácil ser mensageiro. Muitas vezes levamos uma notícia que não agrada, que incomoda, que denuncia e que mexe com interesses de poderosos. É emocionante contar histórias e mais ainda quando elas têm um final feliz. Ser jornalista não é viver um dia a dia glamouroso. Esse conto de fadas moderno até existe, mas é reservado para uma seleta parcela, tão diminuta que, por vezes, até parece inexistente. Para a maioria esmagadora dos jornalistas, a rotina começa cedo, é pesada, e mal remunerada. Com a diminuição progressiva dos postos de trabalho, concorrência desleal com pessoas que nunca foram e nem serão colegas, as condições para o exercício profissional são cada vez mais insalubres. Jornalistas vivem no limite do estresse, seja porque o dead line é sempre mais curto do que precisamos para entregar a matéria, seja porque estamos sempre pressionados. Não há imparcialidade no jornalismo. Isso é um mito. Assim como não há imparcialidade no Judiciário, no Legislativo e no Executivo. Na Medicina ou em qualquer outra profissão. Somos humanos e, portanto, sujeitos a opiniões próprias e a erros de julgamento. O papel do jornalista é universalizar a informação correta, verídica e imprescindível para que um país viva a democracia. A liberdade de imprensa é um direito constitucional e que precisa ser garantido. Sempre defendi que a profissão tivesse o seu Conselho Federal. Não para servir como meio de repressão arbitrária, mas para punir excessos quando ocorrerem. Quando o Supremo Tribunal Federal cassou a obrigatoriedade do diploma prestou um grande desserviço para o país. Não porque deixou de barrar quem não tinha o canudo, mas porque permitiu de forma deliberada que a indústria das fake news se espalhasse com velocidade assustadora e criminosa. Ao ferir os que sempre honraram a profissão, com ou sem diploma, os ministros da mais alta Corte brasileira precarizaram a profissão, instituíram a bandalheira e colocaram num mesmo balaio jornalistas e 'bocas de aluguel'. E tudo isso porque, no fundo, parte do patronato queria deixar a folha de pagamento mais barata. Ser jornalista é ter empatia pelo outro. É servir de 'ponte' entre governantes e a população mais vulnerável. É trabalhar de modo incansável por uma sociedade mais justa e democrática. Ser jornalista não é fazer militância política, independente da coloração. Fanatismo não é bem-vindo nunca e jamais deve contaminar a informação. Sou jornalista com muito orgulho. Amo o que faço e enxergo na pauta diária a oportunidade de fazer do mundo que vivo um lugar melhor. Para cada reportagem feita, levo sempre a ética e o respeito, mas nunca a subserviência, seja a quem for. Minha consciência não tem preço e meus textos sempre estarão a serviço do bem comum. Não me considero dona da verdade. Ninguém o é. Mas luto com todas as minhas forças para que todos tenham o direito de pensarem por si e escolherem o que acharem melhor para suas vidas. Jornalismo é uma paixão incontrolável que trazemos impressa no nosso DNA. Há ícones imbatíveis pela competência e admiráveis pelo caráter. Seja como profissional ou ser humano, o Repórter do Século ou o Príncipe dos Repórteres, José Hamilton Ribeiro é um digno exemplo do jornalismo de excelência. Do alto dos seus 85 anos, mantém a integridade dos princípios, a simplicidade de um menino e a genialidade dos que sabem transformar um fato corriqueiro em uma reportagem premiada.
Ontem, dia 7, foi Dia Mundial da Saúde, uma data que assumiu um significado especial durante a maior crise sanitária da atualidade. Foi dia também do jornalista. Confesso que não há muito o que comemorar, diante do avanço da violência contra nós, mas ainda conservo o idealismo dos tempos da faculdade e espero por dias melhores.

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